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Confusão na final da Liga dos Campeões gera dúvidas sobre capacidade da França de sediar JO 2024

A organização - ou a falta dela - da partida final da Liga dos Campeões, neste sábado (28), em Paris, acabou gerando polêmica em torno da capacidade da França de receber, em dois anos, os Jogos Olímpicos de Paris. Mais de cem pessoas foram abordadas pela polícia, que investiga a venda de ingressos falsos e a confusão nos acessos ao Stade de France, onde aconteceu o jogo. O caso também teve repercução política a duas semanas das eleições legislativas no país.

Tocedores do Liverpool em frente ao Stade de France à espera do acesso ao estádio para assistirem a final da Liga dos Campeões.
Tocedores do Liverpool em frente ao Stade de France à espera do acesso ao estádio para assistirem a final da Liga dos Campeões. © AFP - THOMAS COEX
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"Sensação de humilhação", sintetizou a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen. "Somos observados pelo mundo e todas as capitais que viram isto constataram que a França não é capaz de organizar grandes manifestações sem que elas degenerem", destacou a presidente do partido Reunião Nacional (RN), em entrevista aos canais RTL-Le Figaro-LCI.

"É a confirmação de que nosso Estado está desmoronando sob nossos pés. A realidade é essa. É que não sabemos mais como organizar um grande evento, mesmo tendo os Jogos Olímpicos daqui a 18 meses, o que é extremamente preocupante", acrescentou a segunda colocada da eleição presidencial de 2022, denunciando a "incompetência" do ministro do Interior, Gérald Darmanin, e do chefe de polícia de Paris, Didier Lallement.

A mesma observação foi feita pelo líder do partido A França Insubmissa, de extrema esquerda. “Fracasso total da estratégia policial", criticou Jean-Luc Mélenchon, neste domingo (29). “A imagem é lamentável, é preocupante porque podemos ver claramente que não estamos preparados para eventos como os Jogos Olímpicos", declarou Mélenchon em entrevista ao canal BFMTV. "Deve haver uma reflexão fundamental para colocar a polícia francesa de volta a um dispositivo que a torne eficaz", porque "o papel da polícia é impedir que as coisas deem errado”.

Do lado da maioria governista, a deputada do LREM-Renaissance Aurore Bergé destacou “o contexto" do evento. "Esta final deveria ter sido realizada na Rússia" e a França a organizou "em apenas três meses", justificou, defendendo a estratégia do governo em entrevista ao canal RMC.  "Não houve problemas nas fans zones", assegurou, apelando as pessoas a "olharem friamente o que aconteceu", para não tirarem conclusões erradas sobre as potenciais fragilidades organizacionais das autoridades francesas face aos grandes eventos desportivos que se aproximam.

Noite marcada por incidentes

Ao todo 105 pessoas foram ouvidas e 39 colocadas sob custódia policial na noite deste sábado, em Paris, durante a final da Liga dos Campeões. A partida foi marcada por incidentes no acesso ao Stade de France, de acordo com um relatório do Ministério do Interior francês.

Devido às tensões fora do estádio, o início do jogo entre Real Madrid e Liverpool (1-0) teve de ser adiado em meia hora, o que é raro para um evento deste nível.

Muitos jovens torcedores tentaram escalar os portões do estádio para forçar a entrada. Houve confusão com a polícia, que repeliu os intrusos usando gás lacrimogêneo. Alguns espectadores que possuíam ingressos só conseguiram entrar no estádio no fim do primeiro tempo.

Em um tuíte na noite de sábado, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, apontou a responsabilidade para "milhares de torcedores britânicos sem ingressos ou com ingressos falsos que forçaram as entradas" do Stade de France. Neste domingo, uma fonte próxima ao governo argumentou que o problema veio desses "milhares de ingressos falsificados" que criaram filas nos portões do estádio.

Torcedores com ingressos em frente ao Stade de France antes da partida final da Liga dos Campeões entre Liverpool e Real Madrid, em Saint Denis, neste sábado, 28 de maio de 2022. A polícia lançou gás lacrimogêneo e houve longas filas para entrar, o que adiou a partida em 37 minutos. A segurança teve de conter uma multidão de torcedores que tentavam escalar as cercas do estádio.
Torcedores com ingressos em frente ao Stade de France antes da partida final da Liga dos Campeões entre Liverpool e Real Madrid, em Saint Denis, neste sábado, 28 de maio de 2022. A polícia lançou gás lacrimogêneo e houve longas filas para entrar, o que adiou a partida em 37 minutos. A segurança teve de conter uma multidão de torcedores que tentavam escalar as cercas do estádio. AP - Christophe Ena

Ingleses saíram descontentes

Os torcedores do Liverpool dizem ter ficado decepcionados com a recepção em Paris. "Estamos extremamente desapontados com os problemas de acesso e violações do perímetro de segurança sofridos pelos torcedores do Liverpool", informou o clube inglês, em um comunicado.

Presente no estádio, a polícia britânica de Merseyside-Liverpool escreveu no Twitter sobre as "circunstâncias chocantes" no local e defendeu o comportamento "exemplar" dos torcedores dos Reds durante o jogo, "o pior em termos de organização" que já tinham visto.

Para Ronan Evain, diretor-executivo da rede Football Supporters Europe, esta falha "levanta a questão da capacidade da França para organizar eventos desta dimensão". "Continuamos a reproduzir os mesmos padrões de organização que já falharam no passado. Há uma necessidade muito forte de modernizar a abordagem para garantir esses eventos", declarou ele à AFP.

A noite transcorreu sem problemas, entretanto, nas duas fan zones criadas para acolher os torcedores do Real Madrid, em Saint-Denis, e os do Liverpool, em Vincennes, no leste de Paris. De acordo com a polícia de Paris, a saída dos torcedores aconteeu "sem grandes incidentes".

De acordo com a promotoria de Paris, cerca de 20 pessoas foram detidas, principalmente por violência e roubo nas vias públicas próximas às fan zones. Uma pessoa é investigada por ter tentado vender ingressos falsos da partida.

Os bombeiros de Paris classificaram esta como "uma noite bastante calma" em termos de atendimento. Ao todo, 238 pessoas foram atendidas pelos muitos serviços de emergência em algum momento do dia, por "emergências relativas", que vão desde embriaguez a pequenos acidentes, incluindo intoxicação por gás lacrimogêneo.

O sistema de segurança para a final da Liga dos Campeões reuniu um efetivo de 6,8 mil policiais e bombeiros, além de um grande número de agentes de segurança privada. O evento serviu como um teste para a Copa do Mundo de Rugby, que será organizada pela França em 2023, e para a Olimpíada de Paris, no ano seguinte.

(Com informações da AFP)

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