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Contra polarização, França faz experiência democrática de voto por pontos em primárias presidenciais

E se o ganhador das eleições não fosse o candidato com mais votos nominais, mas aquele que reúne o máximo de preferências e o mínimo de rejeição? Essa é a proposta da experiência democrática feita pelos organizadores de uma primária popular na França para escolher o candidato à presidência da esquerda para as eleições presidenciais. O modelo evita a polarização e busca o consenso.

Na França, as Primárias Populares vão experimentar um novo sistema de votação. Cada candidato deverá ser avaliado e receberá uma classificação entre muito bom e insuficiente.
Na França, as Primárias Populares vão experimentar um novo sistema de votação. Cada candidato deverá ser avaliado e receberá uma classificação entre muito bom e insuficiente. AFP/Pascal Guyot
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Com informações de Romain Brunet, da France24.

A proposta, conhecida como voto preferencial ou voto ordenado, foi desenhada no início dos anos 2000 por dois pesquisadores de matemática ligados ao Centro Nacional de Pesquisa Científica francês, Michel Balinski e Rida Laraki. Nesse modelo, cada eleitor distribui uma quantidade de pontos positivos e pontos negativos entre os candidatos, declarando assim sua ordem de preferência e a rejeição a certos personagens.

O objetivo é remediar os efeitos perversos do atual sistema de votação presidencial adotado na França, e também no Brasil, em que a escolha de apenas um candidato em dois turnos pode levar à eleição por uma margem estreita de um político que tenha enorme rejeição entre a maior parte da população.

No sistema atual, os eleitores muitas vezes “votam por costume, ou votam contra ou fazem um voto útil. E não podem dizer o que pensam dos outros candidatos”, critica Chloé Ridel, cofundandora da associação Mieux Voter. “O resultado é que a abstenção e o voto em branco estão em constante aumento e o vencedor é eleito sem o apoio da maioria da população”, continua.

A associação Mieux Voter faz campanha pelo voto preferencial na França desde 2018.

Uma experiência democrática

Esse sistema de votação por pontos será adotado pela Primária Popular que está sendo organizada na França entre eleitores identificados com candidatos de esquerda.

Após uma eleição presidencial em 2017, em que os votos da esquerda se dividiram entre quatro candidatos sem conseguir levar nenhum de seus representantes ao segundo turno, os organizadores desta primária não oficial tentam convencer à escolha de apenas um candidato de esquerda para as presidenciais de abril.

A votação das primárias acontece entre 27 e 30 de janeiro, e participam dela cerca de 250 mil eleitores inscritos. Eles vão avaliar sete candidatos: Christiane Taubira, Anne Hidalgo, Yannick Jadot, Jean-Luc Mélenchon, Anna Agueb-Porterie, Charlotte Marchandise e Philippe Larrouturou.

Para as primárias, os eleitores poderão dar cinco notas: Muito bom, Bom, Regular, Suficiente e Insuficiente. Após os votos, será calculada a classificação mediana de cada candidato, onde será importante ter mais vozes favoráveis que negativas. A melhor classificação mediana ganha a eleição.

Em caso de empate na classificação mediana, ou seja, se dois candidatos receberem a mesma classificação, a eleição é ganha por aquele que tem mais menções entre as classificações mais positivas.

“Assim, todos os candidatos são avaliados independentemente uns dos outros e, no final, o melhor candidato avaliado ganha a eleição", explica Chloé Ridel. “Desta forma, não há mais votos úteis e o voto em branco não tem razão de existir, já que você pode, se desejar, rejeitar a todos.”

Fim da polarização

Neste sistema, mais importante do que ter um grupo restrito de fiéis eleitores é convencer a maioria de que você é um candidato possível, e não despertar grande rejeição.

Esse tipo de voto “força os candidatos a falarem com o maior número de pessoas possível, enquanto o atual sistema de votação incentiva a polarização do debate político e exige apenas que você fale com 20% do eleitorado para chegar ao segundo turno”, justifica Ridel.

Outra consequência deste método é que ele elimina quase automaticamente os candidatos com maior rejeição. Em uma pesquisa feita na França em dezembro pelo instituto de pesquisa Opinion Way, o candidato de extrema direita Éric Zemmour aparece em último lugar em uma escolha com voto preferencial, enquanto pelo sistema atual ele é quarto candidato com mais intenções de voto para as próximas eleições.

Por enquanto, esta é apenas uma experiência na França feita de maneira não oficial e organizada fora dos partidos. No entanto, 250 mil eleitores se interessaram, se inscreverem e vão testar o sistema nas próximas semanas. Se os organizadores conseguirem apoio para a campanha, esta pode se tornar uma demanda viável em um momento de crise no sistema de representação.

E no Brasil?

Uma proposta similar foi apresentada no Brasil durante a reforma eleitoral, em agosto de 2021. A proposta previa a adoção de um modelo em que o eleitor escolheria até cinco candidatos para presidente, governador ou prefeito, apresentados em ordem decrescente de preferência.

No entanto, o modelo foi rejeitado pelos deputados brasileiros, com 388 votos contrários e apenas 36 favoráveis.

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