Acessar o conteúdo principal

Com aprovação da Hungria, Suécia adere à Otan e encerra política de não alinhamento militar

A adesão da Suécia à Otan - Organização do Tratado do Atlântico Norte -, que se materializa após a aprovação do Parlamento húngaro nesta segunda-feira (26), põe fim a 200 anos de não alinhamento militar do país nórdico com os demais países da região. A entrada da Finlândia na aliança também foi aprovada.

Com o sinal verde do parlamento húngaro, a entrada da Suécia e da Finlândia na Otan é aprovada.
Com o sinal verde do parlamento húngaro, a entrada da Suécia e da Finlândia na Otan é aprovada. REUTERS - DADO RUVIC
Publicidade

Esta adesão marca uma mudança profunda para a defesa sueca, que agora faz parte de um coletivo, e um importante desenvolvimento geopolítico para a região.

O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, considerou a data como “um dia histórico” após a ratificação húngara que abre caminho para a entrada do país na Aliança Atlântica.

“A Suécia está pronta para assumir as suas responsabilidades em termos de segurança euro-atlântica”, quase dois anos após o início do processo de adesão, acrescentou no X.

Por que a Suécia decidiu aderir à Otan?

Após o fim das Guerras Napoleônicas no século XIX, a Suécia adotou oficialmente uma política de neutralidade. Com o fim da Guerra Fria, o país evoluiu para uma política de não alinhamento militar, a fim de evitar qualquer conflito futuro.

Embora contribua para as forças internacionais de manutenção da paz, a Suécia não vive uma guerra desde o conflito contra a independência da Noruega em 1814.

Apesar da sua neutralidade, o país tem desenvolvido intensa atividade diplomática, defendendo os direitos humanos e sendo por vezes apelidada de “superpotência humanitária”.

Embora estivesse fora da Otan, aproximou-se da Aliança Atlântica ao aderir à Parceria para a Paz, em 1994, e ao Conselho de Parceria Euro-Atlântico em 1997.

A maioria dos suecos foi, durante muitos anos, contra a adesão, vista como um tabu pelos sociais-democratas, o principal partido da Suécia. O antigo ministro da Defesa, o social-democrata Peter Hultqvist, declarou no outono de 2021 que poderia “garantir” que nunca participaria num processo de adesão.

No entanto, a invasão da Ucrânia pela Rússia marcou uma mudança dramática nos partidos políticos e na opinião pública, e uma clara maioria do parlamento votou, em maio de 2022, a favor da candidatura de adesão à Otan.

Como a Suécia contribui para a Otan?

A Suécia investe maciçamente há bastante tempo na sua defesa para garantir a sua neutralidade. O seu orçamento de defesa começou a aumentar em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia.

Em 1990, este orçamento representava 2,6% do PIB e foi reduzido para 1,2% em 2020, segundo o governo, que garante que o objetivo da Otan de 2% do PIB será alcançado em 2024.

Ao combinar os seus diferentes ramos, o exército sueco pode mobilizar cerca de 50 mil soldados, cerca de metade dos quais são reservistas.

No ar, conta com mais de 90 caças JAS 39 Gripen, do fabricante sueco Saab, e possui uma frota de guerra no Mar Báltico que inclui diversas corvetas e submarinos.

O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, também disse em janeiro que o seu país estava pronto para fornecer tropas às forças da Otan na Letônia.

A adesão da Suécia - e da Finlândia - à Otan também significa que o Mar Báltico está agora rodeado por países membros da Aliança, com alguns analistas apelidando-o de "lago da Otan".

“Esta é a última peça do quebra-cabeça do mapa da Otan no norte da Europa que está se encaixando”, disse Robert Dalsjö, analista da Agência Sueca de Pesquisa de Defesa (FOI).

Quais são as implicações para a defesa sueca?

A Suécia deve agora enquadrar a sua política num quadro coletivo, sublinham os especialistas.

“A Suécia trabalha há muito tempo com base no princípio de ter que resolver a tarefa sozinha”, explica à AFP Jan Henningson, também pesquisador da Agência Sueca de Pesquisa de Defesa.

"Teremos agora de aprender a trabalhar em equipe. E teremos de nos adaptar ao fato de não estarmos nos preparando para defender apenas o território sueco, mas também o território aliado", observa Dalsjö.

Num contexto em que a Finlândia ou os países bálticos seriam campos de batalha, a Suécia terá de se posicionar como um país de trânsito para as tropas da Otan.

 A adesão também perturba a sua concepção tradicional de relações de poder em caso de conflito potencial.

“Tradicionalmente, pensávamos que éramos um Estado pequeno e que quem nos atacava era muito maior”, observa Henningson. Mas quando se trata de economia e demografia, “a Otan é muito maior que a Rússia”, acrescenta.  

O que é vantajoso para Estocolmo, segundo os seus responsáveis ​​militares. “Será uma força bastante impressionante, com o poderio combinado de 32 países, desde a Turquia, no sul, até Svalbard”, no norte, disse o chefe do exército sueco, Jonny Lindfors, ao jornal Dagens Nyheter, em dezembro.

(Com AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.