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Agricultores alemães querem se dissociar de grupos de extrema direita que tentam infiltrar protestos

Neonazistas, monarquistas, nacionalistas e outros extremistas de direita decidiram "apoiar" o movimento dos agricultores alemães que pedem subvenções e melhores condições de trabalho. O chanceler e chefe do governo alemão, Olaf Scholz, fez uma advertência neste sábado (13) contra "extremistas" que procuram explorar o movimento social na Alemanha, especialmente o dos agricultores. Scholz afirmou que está preocupado com os apelos à violência, por constituírem uma "ameaça à democracia" do país.–––

Esta foto, tirada em 11 de abril de 2021, mostra o logotipo do partido alemão de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em um congresso em Dresden, no leste da Alemanha.
Esta foto, tirada em 11 de abril de 2021, mostra o logotipo do partido alemão de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em um congresso em Dresden, no leste da Alemanha. AFP - JENS SCHLUETER
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Tratores de um lado e faixas radicais de grupos extremistas de outro: os agricultores mobilizados há uma semana na Alemanha querem se dissociar dos grupos de extrema direita que tentam se infiltrar em grande número nos protestos.

Em uma manifestação em Dresden, no leste do país, um cordão de policiais separou rigorosamente a manifestação principal de algumas dezenas de pessoas que agitavam bandeiras monárquicas, como observaram jornalistas da agência AFP presentes no local. O pequeno grupo alegou pertencer ao movimento local de extrema direita "Freie Sachsen" - "Saxônia Livre", nome da região da ex-Alemanha Oriental, que era separada do oeste pelo Muro de Berlim. Em Dresden, capital da região, os extremistas exibiam fotomontagens de políticos alemães vestidos como prisioneiros.

As autoridades alemãs dizem temer que o movimento social dos agricultores, desencadeado em dezembro pela retirada de incentivos fiscais e subsídios, esteja sendo "infiltrada" por grupos extremistas.

"A raiva está sendo alimentada de forma direcionada: extremistas (....), inclusive por meio de redes sociais, desprezam qualquer compromisso e envenenam qualquer debate democrático", denunciou o chanceler alemão neste sábado (13), antes de uma grande manifestação de agricultores em Berlim, programada na segunda-feira (15).

Legitimidade dos protestos

"Quando os protestos, que em si são legítimos, se transformam em raiva ou desprezo pelos processos e instituições democráticas, todos nós perdemos. Apenas aqueles que desprezam nossa democracia serão beneficiados", advertiu o líder alemão em uma nota oficial.

O movimento "Freie Sachsen", que reúne monarquistas, teóricos da conspiração e a direita nacionalista, multiplicou as mensagens de apoio aos agricultores nas redes sociais, convocando uma "semana de resistência" paralela ao movimento dos ruralistas.

Outros grupos, como o neonazista "Third Voice" e o movimento nacionalista "Ein Prozent", também convocaram "greves gerais" e "tumultos subversivos", de acordo com o Ministério do Interior alemão.

"Esses movimentos estão buscando constante e sistematicamente subverter qualquer forma de protesto público legítimo", denunciou à imprensa Stephan Kramer, chefe dos serviços de Inteligência do estado da Turíngia, no leste da Alemanha.

Eles também são acusados de ações condenadas, como a instalação de forcas simbólicas ao lado de rodovias ou o bloqueio de uma balsa na qual viajava o ministro da Economia, o ecologista Robert Habeck, um dos alvos favoritos dos manifestantes. "Forcas não são argumentos. Opositores políticos não são 'cretinos'", disse Olaf Scholz neste sábado, condenando "apelos à violência e ameaças pessoais".

Vários dos fazendeiros entrevistados disseram que se recusavam a se aproveitar da situação. "Não os filme, eles não nos representam", disse uma mulher segurando uma placa de apoio aos agricultores.

"Não queremos movimentos radicais e de direita em nossas manifestações", disse Joachim Ruckwied, dirigente do Sindicato dos Agricultores Alemães (DBV), a principal entidade do setor.

Símbolos nacionalistas

No entanto, alguns símbolos nacionalistas, como as cores do Império Alemão ou uma bandeira vermelho-preto-dourada em forma de cruz, usada durante o movimento anti-islâmico Pegida, eram visíveis na principal manifestação em Dresden.

"A maioria dos participantes é politicamente neutra. Não acho que sejam de extrema direita", disse Thomas Knoefel, 39 anos, agricultor e manifestante. "Essas manifestações são sobre o nosso futuro. Isso não tem nada a ver com extremistas de direita, não é por isso que estamos aqui", concordou Luisa Hochstein, 26 anos, que administra uma pequena fazenda de laticínios na região.

O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) emitiu um comunicado de imprensa em apoio ao movimento e disse que pretende fazer da defesa da vida rural um ponto "central" de sua campanha para as próximas eleições, de acordo com Tino Chrupalla, seu porta-voz.

Há vários meses, a sigla AfD vem registrando níveis recordes de intenções de voto: entre 21% e 23% no plano nacional e mais de 30% em estados da ex-Alemanha Oriental, como Saxônia, Turíngia e Brandemburgo, onde serão realizadas eleições regionais cruciais no segundo semestre do ano. Os agricultores "estão indo às ruas em nome de uma grande parte da sociedade", diz o partido. De acordo com uma pesquisa, 80% dos alemães dizem compreender as reivindicações dos manifestantes.

O partido AfD postou nesta semana um vídeo intitulado "Obrigado por você estar lá por nós". A mídia alemã apontou, no entanto, que em seu programa de 2016, o partido de extrema direita pediu "mais concorrência" e "menos subsídios" para a agricultura no país.

(Com AFP)

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