Jiu-jitsu brasileiro ajuda a reabilitar soldados ucranianos feridos na guerra contra a Rússia
Um projeto desenvolvido por veteranos de guerra, usa a prática de jiu-jitsu brasileiro para reabilitar e socializar soldados ucranianos amputados ou feridos no conflito com a Rússia. Em Kiev, capital da Ucrânia, os militares podem aprender e praticar o esporte de combate gratuitamente em aulas de uma hora e meia.
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O projeto TMS HUB foi uma iniciativa de Artem Kusminch, veterano da Força Especial Ucraniana que perdeu uma perna na explosão de uma mina e mesmo assim foi campeão de jiu-jitsu brasileiro na Ucrânia, Europa e Brasil.
"Não tratamos de lesões mentais ou físicas. Nosso objetivo é a reintegração na sociedade", diz Oleg Iskra, treinador do projeto TMS HUB. "Mesmo sem um membro, a pessoa pode se sentir em casa, sentir o apoio da equipe. Ela terá a oportunidade de alcançar resultados esportivos e, se continuar a se desenvolver, até de participar de competições, mesmo internacionais", afirma.
No primeiro mês, o projeto já contava com a participação de 20 soldados. Cada lutador recebe um tratamento individual, com técnicas e métodos específicos de aprendizado.
"Há especificidades porque cada amputação é única. Mesmo tendo a mesma aparência física, dois atletas não sentem da mesma maneira. Todos precisam de uma abordagem individual", destaca Oleg Iskra.
"Você tem que encontrar a técnica em que a pessoa se sinta confortável. É necessário entender o limite entre as dificuldades técnicas normais da arte marcial e as dificuldades devido à mobilidade limitada do lutador. Claro que existem algumas dificuldades, mas o jiu-jitsu é um esporte muito adaptável, e cada um pode encontrar uma técnica mais adequada a sua própria situação", diz.
Reeducação física em segundo plano
O soldado Mykyta Borysov, conhecido como "Kit", integrava o Batalhão Especial Azov. Sua lesão o impediu de praticar a maioria dos esportes e ele escolheu o jiu-jitsu.
"Durante o meu tratamento, perdi a forma. Estava me sentindo muito mal e comecei a procurar maneiras de me recuperar. Ouvi falar de um homem que ensinava jiu-jitsu de graça. Como não tenho um olho e tenho uma placa de titânio no crânio, não posso fazer esportes de impacto, como o boxe. Decidi tentar o jiu-jitsu e fiquei aqui", relata.
O que Kit busca nos treinos é lidar com os traumas deixados pela guerra. "A reeducação física está em segundo plano para mim. Tenho dificuldades de me comunicar com civis e prefiro ficar em casa", diz.
"Aqui converso com outros militares e tenho muito respeito por eles, porque aqui todo mundo tem lesões, amputações. Mas eles não ficam em casa se lamentando, mas vêm aqui para mostrar sua capacidade e mostram o quanto são fortes. Tenho muito respeito por eles e estou feliz de estar aqui", diz.
Mais de 20.000 pessoas na Ucrânia perderam membros devido a lesões desde o início da guerra com a Rússia, a grande maioria soldados.
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