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500º dia de guerra: Zelensky comemora a "coragem" da Ucrânia; bombardeio russo deixa seis mortos

Há exatos 500 dias, na noite de 24 de fevereiro de 2022, os tanques de Moscou cruzavam a fronteira com a Ucrânia, dando início a um rastro de destruição, violência e crimes de guerra, como os revelados em Bucha, uma das cidades que foram dominadas pelos russos, assim como Mariupol e Soledar, ou mesmo Bakhmout, que ainda é palco de conflitos. Enquanto as consequências da guerra são sentidas em todo mundo, a ONU anunciou neste sábado (8) um balanço de cerca de 9 mil civis ucranianos mortos.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou neste sábado (8), 500º dia da invasão russa, a Ilha das Serpentes, que foi libertada pelas tropas ucranianas em junho de 2022.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou neste sábado (8), 500º dia da invasão russa, a Ilha das Serpentes, que foi libertada pelas tropas ucranianas em junho de 2022. AFP - HANDOUT
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Emmanuelle Chaze e Stéphane Siohan, correspondentes da RFI em Kiev, com agências

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, comemorou a "coragem" de seu povo no 500º dia da guerra lançada pela Rússia, que realizou um novo bombardeio mortal no leste do país neste sábado.

A Ucrânia anunciou um bombardeio russo na cidade de Lyman, na região de Donestk. "Pelo menos seis pessoas morreram e cinco ficaram feridas", declarou o governador local, Pavlo Kyrylenko.

A marca simbólica dos 500 dias é ultrapassada quando Kiev, empenhada em uma contraofensiva contra Moscou, obteve na sexta-feira (7) o compromisso de Washington de lhe entregar bombas de fragmentação, poucos dias antes da cúpula da Otan, em Vilnius, na Lituânia.

Para marcar o 500º dia de um conflito, que já matou mais de 9 mil civis ucranianos, sendo pelo menos 500 crianças, de acordo com a ONU, Zelensky visitou a Ilha das Serpentes, no Mar Negro. O território havia sido tomado por Moscou logo após o início da invasão, antes de abandoná-lo para as forças de Kiev, em junho de 2022.

Símbolo de resistência

"Hoje estamos na Ilha das Serpentes, que nunca será conquistada pelo ocupante, assim como o resto da Ucrânia, porque somos o país da coragem", afirmou o presidente ucraniano em comunicado.

O contingente ucraniano instalado nesta pequena rocha no início da invasão se recusou a render-se e hostilizou o navio de guerra russo Moskva durante uma troca por rádio que se tornou célebre e instituída como símbolo da resistência de Kiev.

Esses soldados ucranianos certamente acabaram sendo capturados antes de serem trocados por prisioneiros russos. Mas o Moskva afundou no Mar Negro após ser atingido, de acordo com Kiev, por mísseis ucranianos. Moscou teve que abandonar a ilha em junho de 2022.

“Quero agradecer aqui, deste lugar de vitória, a cada um de nossos soldados por esses 500 dias”, disse Zelensky em um vídeo não datado publicado nas redes sociais, em que é visto colocando flores em frente a um memorial na ilha.

Crimes de guerra

A lista de crimes de guerra russos cresce a cada dia, em ataques aéreos a infraestruturas civis, em deportações de crianças (pelo menos 16 mil menores foram levados para a Rússia e não foram devolvidos aos pais), nos relatos dos sobreviventes da ocupação russa, que foram presos, torturados, estuprados, como em Bucha, Izyum e Mariupol.

Estes 500 dias mudaram radicalmente a vida de 44 milhões de ucranianos. A guerra também levou ao deslocamento de cerca de um quarto da população do país: 6 milhões de refugiados, 8 milhões de deslocados internos.

Voluntários carregam caminhão com corpos retirados de vala comum em Bucha, no subúrbio de Kiev (12/04/22).
Voluntários carregam caminhão com corpos retirados de vala comum em Bucha, no subúrbio de Kiev (12/04/22). AP - Rodrigo Abd

Em Istambul, onde encerrou no sábado uma viagem pela Europa oriental, o presidente ucraniano saudou a memória das vítimas do conflito durante uma oração ao lado do patriarca ortodoxo Bartolomeu.

"Nossa luta já dura 500 dias, desde o início da invasão em grande escala. Recebemos o apoio de Sua Santidade aqui e orações por nossos combatentes, nossa nação, nosso povo, pela vida na Ucrânia", declarou Zelensky.

Apoio dos aliados

Em sua contraofensiva, a Ucrânia espera poder usar caças ocidentais em suas operações antes do final do ano para apoiar suas ações terrestres. As forças de Kiev avançaram ao sul de Bakhmout, mas sem uma contribuição decisiva dos aliados - a União Europeia acaba de liberar € 500 milhões para aumentar sua produção de munições para a Ucrânia - há grandes chances que a guerra continue em 2024.

Na sexta-feira, o presidente ucraniano obteve uma vitória diplomática após a decisão de Washington de lhe entregar bombas de fragmentação, que ele descreveu como um "programa de ajuda indispensável".

Os Estados Unidos deram assim mais um passo em seu apoio à Ucrânia ao concordar em fornecer a seu aliado essas armas, que matam indiscriminadamente ao dispersar pequenas cargas explosivas antes ou depois do impacto.

"Foi uma decisão muito difícil para mim", revelou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à CNN.

Mas Washington considerou finalmente que esta entrega representava "a coisa certa a ser feita" face à situação nas áreas de conflito e depois de ter recebido o comprometimento de Kiev de minimizar "os riscos para os civis".

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (esq.), recebeu Zelensky em Istambul
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan (esq.), recebeu Zelensky em Istambul via REUTERS - MURAT CETINMUHURDAR/PPO

Otan

Por outro lado, Washington diminuiu as esperanças de Zelensky, que esperava apoio ocidental para a entrada de seu país na Otan na próxima cúpula em Vilnius, em 11 e 12 de julho. Kiev "ainda tem muitos passos a percorrer antes de se tornar um membro", alertou o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ao receber Zelensky em Istambul na sexta-feira, considerou, pelo contrário, que a Ucrânia "merecia" aderir à Aliança Atlântica, e apelou aos dois países beligerantes para "regressarem às conversações de paz".

Zelensky teve uma longa reunião com o presidente turco, que mantém laços estreitos com Kiev e Moscou, quando discutiu o acordo de julho de 2022 que permite à Ucrânia exportar cereais através do Mar Negro, apesar da guerra.

Esse acordo expira em 17 de julho, e a Rússia já antecipou que não vê razão para prorrogá-lo. "Esperamos que o acordo seja estendido", declarou Erdogan, que pretende levantar o assunto com o presidente russo, Vladimir Putin, que o líder turco deve receber em agosto.

Questionado no sábado sobre esta visita, o porta-voz do Kremlin foi evasivo. "O contato é possível. Mas ainda não há datas", respondeu Dmitry Peskov, citado por agências de notícias russas.

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