Entenda como a guerra na Ucrânia forçou a Alemanha a nacionalizar gigante da energia
A Alemanha vai nacionalizar o grupo energético Uniper, prejudicado pelos cortes no fornecimento de gás russo, uma decisão radical para evitar a falência do principal importador alemão de gás, o que poderia provocar ainda mais instabilidade no mercado de energia. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (21) por Berlim e pelo grupo público Fortum, acionista finlandês da empresa, após várias semanas de negociação.
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"O governo assumirá cerca de 99% da Uniper", confirmou o ministério da Economia alemão, em um comunicado. "A Uniper é um pilar central do fornecimento de energia alemão", completou Berlim para justificar a decisão. "Esta é uma intervenção de crise, para garantir nosso suprimento de gás e proteger os consumidores", disse o ministro das Finanças, Christian Lindner.
O plano de nacionalização "tornou-se necessário", porque a situação "se agravou dramaticamente" com o encerramento no início de setembro do gasoduto Nord Stream que liga a Rússia à Alemanha, detalhou o vice-chanceler alemão, Robert Habeck, durante uma coletiva de imprensa.
A empresa fornece gás para centenas de municípios alemães. O acordo substitui um plano inicial de ajuda, divulgado em julho, segundo o qual Berlim teria uma participação de 30% no grupo. Berlim vai finalmente comprar todas as ações da Fortum, ao preço de € 1,70 por ação, num total de € 500 milhões, de acordo com o mesmo documento.
A Alemanha também pretende realizar um aumento de capital da empresa no valor de € 8 bilhões, de acordo com o governo.
"Nas atuais circunstâncias do mercado energético europeu, e reconhecendo a gravidade da situação da Uniper, este desinvestimento é o passo certo, não só para a Uniper, mas também para a Fortum", declarou Markus Rauramo, presidente do grupo finlandês. A empresa era o principal cliente da gigante russa Gazprom na Alemanha.
Perdas chegam a € 8,5 bilhões
No total, as perdas sofridas somam "€ 8,5 bilhões", informou a Fortum, nesta quarta-feira. A situação piorou quando a Gazprom fechou temporariamente o gasoduto Nord Stream 1, no início de setembro.
A empresa alemã de energia VNG, terceira maior importadora de gás do país, também acaba de pedir ajuda ao Estado para fazer face aos prejuízos causados pela subida dos preços. O governo alemão entrou em negociações com o grupo sobre um possível pacote de ajuda.
A invasão russa da Ucrânia provocou um terremoto no mercado de energia europeu, intensificando a pressão sobre os fornecedores e aumentando os temores de possíveis desabastecimentos durante o inverno que se aproxima no hemisfério norte. A Alemanha ficou particularmente exposta a esta situação devido à elevada dependência das importações de energia de Moscou. Desde o início da guerra, Berlim tem lutado para se livrar do gás russo e garantir suprimentos alternativos.
A nacionalização da Uniper lembra as medidas de emergência tomadas por Berlim durante a crise financeira com o resgate do segundo banco do país, o Commerzbank, via entrada no capital ou, mais recentemente, a aquisição de uma participação na gigante aérea Lufthansa, durante a pandemia do Covid-19.
(Com informações da AFP)
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