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Após carta de desculpas, rei da Bélgica prepara visita histórica à República Demócratica do Congo

O rei Philippe da Bélgica inicia na semana que vem uma visita histórica à República Democrática do Congo, uma região cruelmente explorada por seus antepassados colonialistas. A viagem de seis dias, prevista para acontecer entre 7 a 14 de junho, a convite do presidente Felix Tshisekedi, possui um forte significado simbólico, dois anos após o monarca escrever uma carta ao líder congolês, expressando seu "mais profundo pesar" pelas "feridas" causadas pela colonização belga na região.

O rei dos Belgas expressou em junho de 2020 "seu mais profundo pesar" sobre o passado colonial belga no Congo.
O rei dos Belgas expressou em junho de 2020 "seu mais profundo pesar" sobre o passado colonial belga no Congo. AP - Benoit Doppagne
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A visita, a primeira do monarca à República Democrática do Congo (RDC) desde que subiu ao trono em 2013, está sendo considerada como uma chance de reconciliação, após as atrocidades e outros abusos cometidos sob o domínio colonial belga nesta região do continente africano.

O evento estava originalmente programado para acontecer em junho de 2020, para marcar o 60º aniversário da independência da RDC, mas foi reprogramado para 2022 devido à pandemia do coronavírus. A visita foi então adiada de março para junho, por causa da invasão russa na Ucrânia.

Philippe será acompanhado por sua esposa, a rainha Mathilde, e por membros do governo belga, incluindo o primeiro-ministro Alexander De Croo.

Estátuas coloniais derrubadas

Estão previstas três paradas em território congolês e o soberano fará um discurso nas duas primeiras: em Kinshasa na quarta-feira (8) durante uma cerimônia com Tshisekedi no parlamento congolês, e depois na sexta-feira (10), antes de se encontrar com estudantes da Universidade de Lubumbashi, no sul do país.

Os historiadores reportam que milhões de pessoas no Congo belga foram mortas, mutiladas ou morreram de doenças enquanto trabalhavam em plantações de borracha pertencentes a Leopold II, monarca belga conhecido nos anais da história por sua extrema crueldade, que reinou entre 1865 e 1909, e irmão do bisavô de Philippe.

O crescimento do #BlackLivesMatter no país promoveu um mudança de consciência responsável por fazer com que várias estátuas da era colonial tenham sido removidas ou derrubadas na Bélgica.

O dente de Lumumba, herói da luta anticolonial

A Bélgica também se prepara para devolver a Kinshasa um dente - os últimos restos de Patrice Lumumba - um herói da luta anticolonial e independentista, e um primeiro-ministro de curta duração no Congo independente.

Lumumba foi assassinado por separatistas congoleses e mercenários belgas em 1961, e seu corpo dissolvido em ácido, mas o dente foi guardado como troféu por um de seus assassinos, um oficial da polícia belga.

A visita de Philippe acontece 12 anos após a última visita de um soberano belga, o rei Albert II em 2010, e também terá como objetivo restabelecer laços que foram rompidos durante a presidência de Joseph Kabila, que deixou o cargo em 2018.

Este último foi criticado, inclusive por Bruxelas, por ter permanecido no poder após seu segundo mandato, em violação à Constituição de seu país, o que estremeceu ainda mais as relações entre os dois países.

A lendária crueldade de Leopoldo II

O rei Leopoldo II, que governou a Bélgica no final do século 19, era conhecido por seu tratamento abusivo e cruel do Congo, então colônia belga, do qual acumulou uma considerável fortuna pessoal.

Ele foi o fundador e proprietário do Estado Livre do Congo, uma espécie de holding de um homem só que explorava trabalhadores para colher borracha e extrair marfim da colônia. O rei foi forçado a ceder o controle da empresa ao governo belga em 1908.

Historiadores como Adam Hothschild, autor de "Fantasmas do Rei Leopold", dizem que ele usou trabalho forçado, fazendo mulheres reféns para garantir que os homens não fugissem das plantações de borracha, e foi responsável pela morte de 8 a 10 milhões de congoleses. 

A brutalidade do rei belga inspirou o escritor norte-americano Mark Twain a escrever um célebre texto satírico, o "Solilóquio do Rei Leopoldo".

(Com informações da AFP)

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