Acessar o conteúdo principal

Putin diz que Ucrânia é "colônia americana" e reconhece independência de territórios separatistas

Em um pronunciamento em rede nacional nesta segunda-feira (21), o presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência de Donetsk e Lugansk, dois territórios separatistas pró-russos da Ucrânia. Ele também disse que a situação no leste do país é "crítica" e acusou a Otan de usar a Ucrânia como "plataforma" para um ataque contra os russos. 

O presidente russo Vladimir Putin durante uma reunião de seu Conselho de Segurança, nesta segunda-feira (21)
O presidente russo Vladimir Putin durante uma reunião de seu Conselho de Segurança, nesta segunda-feira (21) © Alexei Nikolsky/AP
Publicidade

Em sua declaração, Putin disse que os país sempre manteve uma cooperação aberta com a Ucrânia, que teve nunca teve uma "verdadeira tradição de Estado". O chefe de Estado russo ainda acusou o governo de ter roubado gás no passado, ter "marginalizado" a língua russa na Ucrânia, e de ser uma colônia americana, com um regime de "marionetes" no comando.

O presidente russo também disse que a Rússia fará o possível para punir as pessoas envolvidas no incêndio contra a sede do sindicato local de 2014 em Odessa e acusou o o serviço secreto ucraniano de cometer crimes. Segundo ele, a Ucrânia pretende criar suas próprias armas nucleares e, caso o país receba armas de destruição massiva, seria como "preparar um ataque contra a Rússia".

Putin informou sua decisão de reconhecimento do território separatista mais cedo ao presidente francês, Emmanuel Macron, e ao chanceler alemão, Olaf Scholz, mediadores no conflito no leste ucraniano, que expressaram sua "decepção", mas se disseram "dispostos" a manter o contato com a Rússia.

Ele também disse que a adesão à Otan é uma ameaça direta para a Rússia e que os centros de treinamento da Otan na Ucrânia equivalem a bases militares da organização. Putin também afirmou que "infraestruturas da Otan" chegaram à fronteira russa e que a Ucrânia é uma "plataforma" para um ataque. Segundo o chefe de Estado russo, as demandas russas em relação à segurança foram rejeitadas.

"Temos direito de proteger nossa segurança, e é o que faremos", acrescentou, dizendo que não abandonará sua soberania e valores nacionais. No fim do pronunciamento, ele confirmou o reconhecimento imediato da independência das duas regiões separatistas e pediu o apoio do Parlamento. Putin ainda assinou "acordos de amizade e ajuda mútua" com separatistas pró-russos da Ucrânia

O presidente francês também convocou um Conselho de Defesa, que está reunido neste momento no Palácio do Eliseu. O chefe do Estado francês conversou nesta segunda-feira com Putin, com o chefe de Estado ucraniano Volodymyr Zelensky, duas vezes com o chanceler alemão Olaf Scholz e com os representantes da União Europeia, Charles Michel e Ursula Von der Leyen. 

O pedido de reconhecimento havia sido feito mais cedo pelos líderes dos dois territórios separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, Denis Pushilin, da DNR (República Popular de Donetsk) e Leonid Pasechnik, da LNR (República Popular de Lugansk), que também pediram a ativação de uma "cooperação de defesa" com os russos. 

Membros de serviço das Forças Armadas Ucranianas disparam um míssil Javelin anti-tanque durante exercícios em um campo de treinamento em um local desconhecido na Ucrânia, neste folheto divulgado em 18 de fevereiro de 2022.
Membros de serviço das Forças Armadas Ucranianas disparam um míssil Javelin anti-tanque durante exercícios em um campo de treinamento em um local desconhecido na Ucrânia, neste folheto divulgado em 18 de fevereiro de 2022. via REUTERS - UKRAINIAN JOINT FORCES OPERATION

UE promete sanções

A União Europeia (UE) também disse que reagirá com firmeza e está disposta a aplicar sanções, anunciou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. "Colocarei o pacote de sanções sobre a mesa dos ministros europeus", alertou Borrell no fim de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da UE em Bruxelas.

O reconhecimento por parte da Rússia da independência das regiões separatistas da Ucrânia representaria uma "ruptura unilateral" dos acordos de Minsk de 2015, também disse nesta segunda-feira o chefe de governo alemão Olaf Scholz, após uma conversa telefônica com Vladimir Putin.

A ONU pede que "todas as partes interessadas se abstenham de qualquer decisão ou ação unilateral que possa minar a integridade territorial da Ucrânia", disse seu porta-voz quando questionado sobre um possível reconhecimento por Moscou da independência das regiões separatistas pró-Rússia na Ucrânia. "Pedimos a  cessação imediata das hostilidades, à contenção máxima de todas as partes para evitar qualquer ação e declaração que agrave ainda mais as tensões", disse Stéphane Dujarric, que destacou que todas as disputas devem "ser tratadas com diplomacia".

Mapa estabelecido no protocolo de Minsk durante a guerra no leste da Ucrânia, em 2014
Mapa estabelecido no protocolo de Minsk durante a guerra no leste da Ucrânia, em 2014 © Goran tek-en/Wikimedia.org

Bombardeios no leste deixaram dois mortos

A tensão cresceu no leste da Ucrânia, onde separatistas pró-Rússia que se revoltaram contra Kiev travam um conflito que já matou mais de 14.000 pessoas desde 2014. Dois soldados morreram na cidade de Zaitseve e quatro outros ficaram feridos nesta segunda-feira, em um bombardeio separatista na região de Donetsk. Pouco antes, as autoridades haviam anunciado a morte de um civil em um bombardeio separatista na mesma região.  

As autoridades das duas "repúblicas pró-Rússia" ordenaram a mobilização dos homens que possam combater e e a transferência de civis para a Rússia. Moscou informou nesta segunda-feira que 61.000 pessoas deixaram a região. Países ocidentais liderados pelos Estados Unidos acusam a Rússia de mobilizar mais de 150.000 soldados na fronteira da Ucrânia para lançar um ataque, e Washington afirma que a invasão pode ocorrer "a qualquer momento".

O presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu em 7 de fevereiro na tentativa de apaziguar as tensões entre a Rússia e a Ucrânia
O presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniu em 7 de fevereiro na tentativa de apaziguar as tensões entre a Rússia e a Ucrânia - SPUTNIK/AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, também acusou nesta segunda-feira (21) as potências ocidentais de usar a crise na Ucrânia para "ameaçar" a segurança da Rússia. Mais uma vez, Putin acusou o Ocidente de "usar a Ucrânia como instrumento de confronto com nosso país", o que "representa uma séria ameaça, muito importante para nós". A prioridade de Moscou não é "confronto, mas segurança", acrescentou o presidente durante uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da Rússia.

 As declarações do chefe de Estado vêm depois de a Rússia anunciar, nesta segunda-feira, que suas forças de segurança eliminaram dois grupos de sabotadores ucranianos que haviam penetrado em seu território e acusar a Ucrânia de ter bombardeado um posto de fronteira.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse que se reunirá com seu colega americano, Antony Blinken, na quinta-feira. Uma operação militar russa seria "particularmente brutal" e "custaria a vida de ucranianos e russos, sejam civis ou soldados", disse o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan. Moscou nega ter planos de invadir a Ucrânia, mas exige garantias de que essa ex-república soviética não será reconhecida pela Otan. Os pedidos foram, até agora, rejeitados pelo Ocidente.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.