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Vítima de racismo da torcida do Udinese, goleiro do Milan critica 'sistema' do futebol italiano

O goleiro do AC Milan e da seleção francesa Mike Maignan disse neste domingo (21), um dia após os insultos racistas dos quais foi vítima durante um jogo do Campeonato Italiano, que “todo um sistema deve assumir suas responsabilidades”.

O goleiro do AC Milan, Mike Maignan, durante jogo entre Udinese e AC Milan em que foi alvo de insultos racistas, em 20 de janeiro de 2024.
O goleiro do AC Milan, Mike Maignan, durante jogo entre Udinese e AC Milan em que foi alvo de insultos racistas, em 20 de janeiro de 2024. AP - Andrea Bressanutti
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"Não é a primeira vez que isso acontece comigo. E não sou o primeiro com quem isso acontece. Fizemos comunicados para a imprensa, campanhas publicitárias, protocolos e nada mudou", escreveu em sua conta X (antigo Twitter).

“Hoje, todo um sistema deve assumir a responsabilidade. Os autores destes atos, porque é fácil agir em grupo, no anonimato de uma arquibancada. Os espectadores que estavam na arquibancada, que viram tudo, que ouviram tudo mas que optaram por permanecer calados, vocês são cúmplices”, denunciou.

“O clube da Udinese, que só falou em interrupção do jogo, como se nada tivesse acontecido, vocês são cúmplices. As autoridades e o Ministério Público, com tudo o que está acontecendo, se vocês não fizerem nada, também serão cúmplices”, escreveu Maignan.

"Não sou uma vítima (...). É uma luta difícil, que vai exigir tempo e coragem. Mas é uma luta que vamos vencer", concluiu o goleiro da seleção francesa.

Na noite de sábado (20), durante a partida da 21ª rodada do Campeonato Italiano, os espectadores chamaram Maignan de "macaco" e gritaram outros insultos racistas.

Após alertar o árbitro, o atleta deixou o campo, acompanhado pelos jogadores do seu time, mas voltou ao campo cinco minutos depois.

O AC Milan venceu a Udinese por 3 a 2 e consolidou a 3ª posição na classificação da Série A.

A Federação Italiana de Futebol deve se pronunciar na terça-feira (23) sobre a sanção que será imposta à Udinese, que pode ir desde uma multa até à suspensão por um ou mais jogos.

A polícia e os tribunais foram contatados pela AFP, mas não conseguiram fornecer detalhes sobre a investigação em curso.

Indignação 

O caso gerou uma onda de indignação no mundo do futebol. ​"Você está muito longe de estar sozinho, Mike Maignan. Estamos todos com você", escreveu Kylian Mbappé, do Paris Saint-Germain e capitão da seleção francesa, no X. "Sempre os mesmos problemas e ainda sem solução. Já basta”, completou.

“Você tem todo o nosso apoio, Mike Maignan”, acrescentou a Federação Francesa de Futebol na conta X da seleção francesa, enquanto outros jogadores, como Marcus Thuram e Antoine Griezmann, manifestaram apoio ao goleiro na noite de sábado.

“É ainda mais bonito vencer assim. Não ao racismo”, celebrou seu companheiro de equipe, o português Rafael Leão, após a vitória do Milan por 3 a 2.

O que aconteceu no Estádio Blueenergy “não tem lugar em um estádio”, afirmou o técnico do Milan, Stefano Pioli.

A ministra francesa da Igualdade entre Mulheres e Homens e pela Luta contra a Discriminação, Aurore Bergé, descreveu Maignan como “o rosto da dignidade”.

“Apoiamos Maignan e condenamos firmemente o que aconteceu em Udine”, disse o presidente da Federação Italiana de Futebol, Gabriele Gravina, que saudou a decisão do árbitro de interromper o jogo.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, fez um apelo para que seja proibida a entrada dos autores de insultos racistas em todos os estádios, além de pedir a criação de uma sanção de “derrota automática” para os clubes cujos torcedores cometam estes delitos.

Caso que se repete

Esta não é a primeira vez que Maignan é alvo de insultos racistas desde que começou a jogar no AC Milan, há três anos. O goleiro já havia denunciado o comportamento dos torcedores da Juve, em setembro de 2021, e depois do Cagliari, em março de 2022. 

Embora seja regularmente palco de atos racistas nos estádios, como o vivido pelo zagueiro da Costa do Marfim, Marc-André Zoro, em 2005, quando jogava no Messina, pelo ganês Kevin-Prince Boateng, em 2013, no Milan, ou nesta temporada pelo belga Romelu Lukaku, no Roma, a Itália ainda está longe de ter firmeza contra esses incidentes. 

Apenas a Fiorentina foi sancionada, em novembro, e teve de realizar um jogo a portas fechadas devido a gritos racistas de seus torcedores.

"Como é possível que em 2024 ainda ouçamos cânticos racistas num estádio? O problema, na minha opinião, é cultural", acusou Arrigo Sacchi, ex-técnico italiano, numa coluna publicada pela Gazzetta dello Sport, que trouxe como manchete "A vergonha de Udine”.

(Com AFP)

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