Setor agropecuário sustenta alta do PIB brasileiro
O setor agropecuário sustentou a alta do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro entre janeiro e março de 2017, o primeiro avanço após oito trimestres de baixa, mas alguns analistas se questionam se esse papel de locomotiva é sustentável ou mesmo desejável.
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No primeiro trimestre, o PIB avançou 1% em relação ao anterior, graças a uma alta de 13,4% do setor agropecuário, em comparação ao modesto avanço de 1% da indústria e um crescimento nulo no setor de serviços.
Trata-se da alta mais importante registrada pelo setor em 20 anos, estimulada por uma "super colheita" de cereais e oleaginosos, que, neste ano, deve ser 27% superior a 2016.
"A agricultura virou a condutora da economia brasileira após dois anos difíceis, por causa das condições climáticas ruins", explica Sylvain Bellefontaine, economista do banco francês BNP Paribas. “Contudo, um trimestre não representa uma tendência. É um resultado excepcional".
"Mesmo se tratando de um grande fornecedor de atividade - sobretudo para a indústria -, em termos de participação, o setor agropecuário não pesa demais para ser determinante na saída da crise. Ele não pode ser a locomotiva da recuperação", prevê Amanda Tavares, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o órgão, a agropecuária representou em 2016 5,5% do PIB, contra 21,2% da indústria e 73,3% do setor terciário. Desde 2000, sua cota fica em torno de 5% do PIB, com exceção de 2003, quando chegou a 7,2%.
Boom de exportações
Ainda assim, a agropecuária representa o primeiro lugar das exportações brasileiras. Nos últimos 16 anos, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o país quadruplicou suas exportações de produtos agropecuários e agroalimentares, de US$ 20 bilhões em 2000 a US$ 85 bilhões em 2016.
O país se tornou o maior exportador mundial de café, produtos aviários e açúcar e o segundo maior exportador de soja, além de um dos dois principais de carne bovina.
A participação de matérias-primas agrícolas nas exportações, que era de 22,8% em 2000, não fica abaixo dos 40% desde 2009. Em 2016, ela chegou a 42,7%, segundo dados do MDIC.
"O setor primário é fundamental para o país a curto prazo, porque ele puxa as exportações, dentro de um contexto internacional favorável ao Brasil, com bom desempenho da Europa e dos Estados Unidos, uma recuperação dos países emergentes e uma previsão de aceleração das trocas comerciais", explicou Bellefontaine.
A China, grande consumidora de produtos agrícolas, se tornou o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009.
"Em 2016, o Brasil exportou US$ 35,9 bilhões para a China, 44% vindo da soja", apontou Heloisa Lee Burnquist, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
A oleaginosa é um dos principais produtos exportados do país - representa 10,4% do total em 2016.
Infraestrutura precária
A longo prazo, os obstáculos de infraestrutura freiam o dinamismo do setor. A dependência de rodovias congestionadas ou em mau estado de conservação encarecem a produção.
Por outro lado, o fato de o governo e a bancada ruralista privilegiarem muito o agronegócio, essa volta à primarização da economia é arriscada, segundo alguns economistas.
"O setor se desenvolveu sobretudo pelo impulso da demanda exterior, o que favoreceu a expansão de monoculturas intensivistas, em grande parte destinadas à exportação e, portanto, dependentes da situação econômica dos nossos parceiros comerciais", alerta Mauro Rochlin, professor de economia na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.
"Para efetivamente sair da crise, o Brasil deve investir em sua indústria, cuja competitividade piorou nos últimos anos, bem como nos setores de ponta", concluiu.
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