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Radar econômico

Veja quais setores ganham com a crise no Brasil

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Nos últimos meses, os brasileiros se acostumaram a só ler notícias ruins sobre a economia do país: a recessão, o desemprego e a inflação projetam um futuro difícil para os próximos dois anos. Mas, como toda a crise, a brasileira também significa oportunidades. Saiba em que setores é possível tirar proveito das adversidades.

Turismo interno está fortalecido no Brasil, graças a dólar em alta.
Turismo interno está fortalecido no Brasil, graças a dólar em alta. Andre Gomes de Melo/ GERJ
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Para começar, o período pode ser favorável para a inovação. O especialista em educação financeira e investimentos Mauro Calil, do banco Ourinvest, afirma que quem tem capital para investir pode desvendar negócios promissores.

“Nós temos várias crises, não só a econômica: tem a crise hídrica, a elétrica, e assim por diante. Se você fornece soluções para economizar água, energia ou adotar fontes alternativas de energia, você terá grandes chances de ser bem sucedido nessa fase”, diz o fundador da Academia do Dinheiro.

Energias renováveis, como a solar, ganham espaço no país, a exemplo dos painéis instalados sobre os prédios da Cidade dos Atletas, no parque olímpico no Rio de Janeiro.
Energias renováveis, como a solar, ganham espaço no país, a exemplo dos painéis instalados sobre os prédios da Cidade dos Atletas, no parque olímpico no Rio de Janeiro. AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA

A alta do desemprego tem levado os trabalhadores a se qualificar, para ampliar o leque de alternativas de trabalho. Os cursos de profissionalização registram aumento da demanda.

A procura por serviços financeiros também vai de vento em popa. Endividados, os brasileiros buscam não apenas crédito, como orientação financeira profissional. Os bancos registraram lucros robustos em 2015, de cerca de 10%.

Juros altos atraem investidores

Os juros altos no Brasil são um atrativo de peso para as aplicações no mercado financeiro. Investidores nacionais e estrangeiros fazem a festa com as taxas de 14,5% aplicadas no país, que possibilitam uma remuneração real alta do capital, em curto prazo.

E graças à desvalorização do real em relação ao dólar e ao euro, os gringos estão em situação de vantagem para investir no Brasil, como explica o economista Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getúlio Vargas. Ele observa que a crise vai modificar a sociedade brasileira para melhor, e abrir novas janelas para quem tiver visão a longo prazo, quando a turbulência passar.

“Nos próximos três ou quatro anos, o Brasil vai recuperar a estabilidade dos fundamentos macroeconômicos. Para os estrangeiros, o fato de ele estar em uma fase crítica é uma linda oportunidade, não só por causa do câmbio, como porque as empresas nacionais estão com muitas dificuldades para sobreviver”, destaca. “Há possibilidades de fazer parcerias com o Brasil, tanto em manufaturas quanto de infraestruturas.”

Em plena crise, rede belga se expande no Brasil

Um exemplo concreto é a rede belga de padarias e restaurantes Le Pain Quotidien, que planeja abrir a sexta loja no Brasil neste ano e já tem 175 funcionários em São Paulo. Famosa nas principais capitais mundiais por seus produtos frescos e o ambiente acolhedor, a marca conseguiu alugar bons endereços em São Paulo por preços atraentes, graças à desaceleração do mercado imobiliário no país.

"Hoje, nós temos mais opções para achar um bom ponto por causa da crise. Tem uma margem de negociação com os donos que é maior e melhor, o que ajuda muito a encontrar bons pontos", explica o gerente Harold de Fierlant. "E eu acho que o câmbio de hoje ajuda o Pain Quotidien no Brasil na questão do investimento para abrir novas lojas. Como os acionistas são europeus, está mais barato fazer obras para abrir uma nova loja do que há dois ou três anos."

Le Pain Quotidien no shopping Vila Olímpia, em São Paulo.
Le Pain Quotidien no shopping Vila Olímpia, em São Paulo. bubblyjof.wordpress.com

Mas é preciso cuidado. O ambiente para o empreendedorismo no país não é dos mais favoráveis, a carga tributária é elevada e a burocracia, complexa. Mauro Calil ressalta a importância de se ter muita informação sobre o país antes de seguir adiante em um projeto.

“São normas muito rígidas a serem seguidas. Por isso, há poucos ou nenhum interessado em editais de obras de infraestrutura, por exemplo”, ressalta o consultor. “O melhor é buscar parceiros locais da iniciativa privada - mas mesmo assim, é preciso estudar bem a legislação e o mercado brasileiros.”

Turismo interno otimista

Outra área que se beneficia é o turismo interno. Viajar para o Brasil está barato para os estrangeiros e até para os brasileiros, se os custos são comparados com as viagens para o exterior. Dilson Jatahy, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, esbanja otimismo, depois de um réveillon com estabelecimentos lotados e um carnaval que se anuncia excelente para o setor.

“Nós temos uma expectativa fantástica, fabulosa. Pela primeira vez na vida, tantos fatores estão convergindo para melhorar o turismo internacional, para que nós possamos realmente nos tornar um destino turístico mundial. Isso acontece principalmente por causa da moeda, mas também pela divulgação que houve na Copa do Mundo e que haverá nas Olimpíadas”, explica Jatahy. “Eu acho que o turismo pode ser um fator preponderante de melhora da balança comercial do Brasil nesse momento de crise.”

Condições boas para as exportações não são garantia de sucesso

Há muito tempo, o câmbio não era tão propício para as exportações. O setor de commodities, tradicional líder das vendas do Brasil para o exterior, se beneficia com a alta do dólar, mas outras áreas tentam recuperar o tempo perdido durante a época em que o real valia quase o mesmo que a moeda americana – o que despencou a competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo.

“Mesmo com o câmbio tendo se desvalorizado tão rápido e continuando nessa trajetória, leva um tempo para que o setor privado exportador possa usufruir dessas mudanças cambiais. O câmbio passou muito tempo valorizado, o Brasil perdeu mercados externos”, constata Ernesto Lozardo. “O mercado não se abre de uma hora para a outra, e como é mundial, o comércio internacional não está em uma fase de crescimento exuberante como há 10 anos.”
 

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