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Radar econômico

Reservas da Fifa dificultam venda de pacotes turísticos para Copa no Brasil

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Até o final do mês, o ramo hoteleiro do Brasil terá o veredicto sobre a expectativa de preenchimento dos hotéis durante a Copa do Mundo. A Fifa vai divulgar quantos quartos pré-reservados pela entidade serão liberados, um número que será diretamente proporcional à procura mundial por hospedagem no país durante o evento. Na África do Sul, o esquema de pré-reservas pela operadora oficial da federação internacional resultou na explosão dos preços e na fraca ocupação dos estabelecimentos.

Hotéis podem não ficar lotados para a Copa.
Hotéis podem não ficar lotados para a Copa. REUTERS/Pilar Olivares
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No total, 840 estabelecimentos brasileiros fecharam acordos com a agência Match, logo após o anúncio de que o país sediaria o Mundial, em 2007. Em janeiro, 50% das vagas não ocupadas já foram canceladas pela operadora, e o restante será feito no dia 20 de abril.

A prática diminuiu a quantidade de leitos disponíveis, resultando no aumento dos preços dos quartos restantes. Os valores elevados fizeram com que agências internacionais tivessem dificuldades em acertar e vender pacotes para a Copa, como foi o caso das francesas.

David Chevalier, diretor-geral da operadora Couleur, especializada em turismo de eventos em Lyon, relata que a demora da Fifa em liberar os quartos costuma resultar em frustração para muitos hotéis, que, às vésperas do evento, não conseguem atrair novos clientes. Os europeus costumam planejar a viagem com bastante antecedência.

“Foi exatamente assim que eles fizeram na África do Sul, e é como eles sempre fazem, afinal eles não têm risco algum. Os hotéis, coitados, acabam aceitando. Depois os hotéis ficam vazios”, lembra. “No início, os brasileiros me pediam 900 reais pela diária, e eu oferecia 400 pagos à vista. Agora eles me ligam oferecendo por 200. Mas agora é tarde demais, eu já acertei com outro. Querendo ganhar e jogar demais, eles acabam se queimando.” A agência vendeu 3 mil pacotes para o Brasil.

Pacotes VIP

Outra agência francesa, a Voyageurs du Monde, oferece pacotes de alto nível, incluindo o ingresso para a partida e atendimento VIP. Porém, com os bilhetes praticamente esgotados, a operadora não tem mais interesse em negociar com os hotéis brasileiros.

“A Fifa vai liberar quartos, mas agora não tem mais ingressos para associar aos quartos. Ninguém vai ir ao Brasil sem o seu ingresso para um jogo no bolso. Não é agora que isso tinha que ser feito, era antes”, observa Cécile Bourret, responsável pelo setor, que vai levar 1,5 mil turistas franceses ao Mundial.

Há anos organizando viagens para Copas, Bourret se surpreendeu com as exigências feitas pelos estabelecimentos brasileiros. “Nós nos vimos diante de condições de vendas draconianas. Era preciso acertar um número impressionante de diárias, como 32 ou 35 noites, a preços bem mais altos dos praticados normalmente”, relata. “Isso nos obrigou a organizar viagens bem caras e é obvio que uma parte dos nossos clientes não pôde viajar.”

Otimismo com as vendas de última hora

Apesar das críticas, Enrico Fontes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, permanece otimista com o preenchimento dos quartos, mesmo de última hora. Ele discorda que os valores estejam elevados demais. “A própria Match diz que, dos 840 hotéis que ela contratou, as tarifas estavam dentro do aceitável, em comparação com a Alemanha ou a África do Sul. E ela faz isso há 32 anos. Ela tem esse know how, essa experiência, e sabe melhor do que ninguém”, disse.

Fontes ressalta que, na Copa das Confederações, o preenchimento dos hotéis foi 27% maior do que o esperado. Ele destaca que, para a Copa do Mundo, algumas cidades acabaram prejudicadas pelo sorteio dos jogos, como Curitiba e Cuiabá, que receberão poucas partidas importantes. “Só soubemos depois do sorteio que há cidades que vão superar as expectativas, em função dos times que lá irão jogar, e outras, como Curitiba, onde a situação está muito sofrível em função da infelicidade do que vai ser jogado lá”, comentou. “Tirando a Espanha, que terá um jogo lá, o resto das partidas é só entre seleções que não têm tradição de levar torcedores aos estádios.”

O representante hoteleiro ressalta que os empresários que investiram no setor não apostavam todas as fichas na Copa, mas sim nos 35 milhões de brasileiros que agora fazem turismo interno, e nos outros 50 milhões que devem começar a viajar nos próximos 12 anos.

A expectativa é de que a Copa atraia 600 mil turistas estrangeiros, e que até 2,5 mil brasileiros se movimentem pelo país para assistir aos jogos.
 

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