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Radar econômico

Reajuste de preços é “bomba” para próximo governo, dizem analistas

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A política econômica do governo brasileiro para conter a inflação entrou na agenda eleitoral. Com o aumento dos preços beirando o teto estabelecido pelo Banco Central, de 6,5%, o controle estatal das tarifas de setores estratégicos como a energia elétrica e os combustíveis virou alvo dos rivais da presidente Dilma Rousseff. Em ano eleitoral, a presidente se recusa a repassar os reajustes para o consumidor, uma equação que, segundo analistas, tem prejudicado os investimentos e a imagem do país nos mercados internacionais.

O reajuste da gasolina pode vir até dezembro deste ano, e deve ser anunciado após o período de eleições.
O reajuste da gasolina pode vir até dezembro deste ano, e deve ser anunciado após o período de eleições. ebc
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Para o economista Flavio Fligenspan, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2015 se anuncia um ano difícil para o próximo presidente, que será obrigado a tomar medidas impopulares para enquadrar a economia.

“Esse é o legítimo ‘empurra com a barriga’, porque tem uma data definida no calendário, as eleições. Essa bomba vai estourar logo à frente, evidentemente, porque não é possível manter os preços sob controle por tão tanto tempo”, observa. “Alguém está pagando, e na verdade é o governo, já que a dívida pública está aumentando.”

O economista Otto Nogami, do Insper, avalia que as intervenções do governo nos preços impactaram no rebaixamento da perspectiva da economia brasileira pela agência Standard & Poor's, no final de março. “Toda a interferência que o governo realiza tem um efeito retardado que acaba desequilibrando toda a estrutura produtiva do país ao longo do tempo. Portanto ações dessa natureza não são muito bem vistas”, constata.

Nogami explica que os preços cobrados do consumidor, abaixo dos valores reais, já impactam no caixa das empresas, que acabam adiando os investimentos. “O setor energético já passa por um problema financeiro, e a Petrobras tem sofrido com essa interferência do governo. A empresa começa a não ter mais recursos para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias”, destaca o professor de finanças. “A capacidade de produção do país não cresceu na mesma proporção, e é esse distanciamento cada vez maior que acaba gerando o processo inflacionário.”

Capitalismo imaturo

Muitos países, como a França, regulam os preços de setores estratégicos através de impostos ou subsídios. Os analistas consideram a medida válida, desde que aplicada por um período determinado para remediar uma fraqueza do setor. Na opinião de Fligenspan, a economia brasileira, “imatura”, ainda não é sólida o suficiente para liberalizar completamente as tarifas, sob o risco de penalizar o consumidor.

“Se compararmos com a média de países com o capitalismo avançado, como os Estados Unidos ou os europeus, sem dúvida a nossa intervenção é demais. Eles deixam mais para o mercado resolver”, lembra. “O contraponto é que se deixarmos funcionar livremente o mercado brasileiro, que é bastante desregulado e até certo ponto ainda selvagem, as empresas avançam na sociedade, impondo qualidade ruim, preços altos e não respeitando o consumidor. Elas ainda não têm uma atuação ética de mercado.”

Além da energia e dos combustíveis, outros setores nos quais a equipe econômica interfere nos preços são os transportes e o imposto sobre produtos industrializados, o IPI.
 

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