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Radar econômico

Na Europa, preocupação é com a possibilidade de deflação

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Enquanto, no Brasil, a alta da inflação causa dor de cabeça ao governo, na Europa é a situação oposta que começa a preocupar as autoridades do bloco: a ameaça de deflação. Puxada pelas quedas dos valores praticados nos países mais atingidos pela crise, como a Espanha, a Grécia ou Portugal, a zona do euro registrou uma inflação de apenas 0,7%.

Inflação na Espanha chegou a 0% em outubro.
Inflação na Espanha chegou a 0% em outubro. Flickr/ Creative Commons
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A meta sugerida pelo Banco Central Europeu é de 2%, para ajudar na retomada da atividade econômica. O Fundo Monetário Internacional é ainda mais ambicioso e sugere 4% como um bom índice inflacionário na Europa neste momento.

Na opinião da economista Agnès Bénassy-Quéré, especialista em política monetária europeia e presidente do Conselho de Análise Econômica, está mais do que na hora de as autoridades europeias tomarem medidas para evitar a deflação. Com este objetivo, na semana passada a taxa de juros foi reduzida de 0,5% para históricos 0,25%.

“A grande dificuldade é que para chegar a 2%, seria necessário que alguns países ficassem acima de 2%, o que não é o caso. Esta, por exemplo, deveria ser a situação da Alemanha, mas ela se encontra com em média 1,2%”, afirma. “Então, para que os países periféricos voltem a ganhar competitividade de preços em relação à Alemanha, eles são obrigados a baixar a inflação para zero ou até negativa.”

O problema da queda dos preços é que, ao invés de estimular os consumidores a comprar, acaba tendo um efeito contrário: sabendo que os valores estão baixos, as pessoas acabam deixando para consumir mais tarde. Com menos demanda, a oferta se adapta e o ciclo do crescimento sofre um duro golpe, que também resulta na queda dos salários.

O economista Ronald Hillbertcht, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, explica este círculo vicioso. “O problema é o que a gente chama de armadilha de liquidez, que foi o que aconteceu no Japão por praticamente duas décadas. Este também foi o grande medo dos Estados Unidos, após a crise financeira: é quando a taxa nominal de juros alcança o eu limite inferior”, analisa. “O risco da expectativa de deflação é que o preço dos produtos cai, o que aumenta a deflação, e aumenta ainda mais a queda dos produtos.”

A francesa Agnès Bénassy-Quéré adverte que a queda dos preços nos países em crise pode acabar afetando indiretamente toda a Europa. “No conjunto dos países europeus, pode ter um impacto muito forte através das dívidas. As dívidas portuguesa, espanhola e, em um menor grau, italiana estão nas mãos de outros países europeus e também de países de fora da zona do euro”, explica. “Se um cenário de deflação com efeito nas dívidas se instala, ou seja, se uma queda dos preços gerar uma diminuição no consumo e deixar o grau de endividamento mais pesado, vamos acabar fatalmente com um calote da dívida, que também afetaria diretamente os credores destes países.”

Ronald Hillbertcht lembra que o Japão e os Estados Unidos responderam à ameaça de deflação com políticas expansionistas e injeção de liquidez no mercado. Porém as consequências disso ainda são desconhecidas. “Não se tem experiência histórica onde grandes emissões de moeda não resultem em inflação futura. Não se sabe como as coisas vão ficar tanto no Japão quanto nos Estados Unidos”, observa.
A situação mais grave na Europa se encontra na Grécia: a inflação de outubro foi negativa de 1,9%, seguida pela Espanha e Portugal, com 0%.
 

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