Governo peruano é condenado por violação do direito a “um ambiente saudável”
Trata-se de um julgamento histórico que abrirá um precedente muito além do continente sul-americano. Na sexta-feira (22), a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou o Peru por ter "violado o direito a um ambiente saudável” dos habitantes de uma cidade mineira nos Andes. Esta é a primeira vez que um Estado é responsabilizado por não proteger os seus cidadãos contra a poluição causada pelas multinacionais.
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La Oroya é uma das dez cidades mais poluídas do mundo. É neste local, a 3.750 metros de altitude e 135 quilômetros a leste de Lima, que, há um século, um complexo metalúrgico processa cobre, zinco, chumbo, prata e ouro de minas vizinhas.
Durante várias gerações, os 20 mil habitantes de La Oroya estiveram expostos à poluição por metais pesados no ar, no solo e na água. Eles sofrem de todos os tipos de doenças e infertilidade. O Estado sabia disso, mas não impôs qualquer regulamentação às multinacionais – incluindo o grupo americano Renco – que se sucederam neste lugar.
Em 2006, 80 vítimas apresentaram queixas. A CIDH acaba de provar que eles têm razão. Os juízes ordenam ao Estado peruano, entre outras coisas, que processe os responsáveis pela poluição, forneça assistência médica gratuita às vítimas, indenize todos os danos sofridos e desenvolva um plano de saneamento para a cidade.
👩🏿⚖️👨🏿⚖️Sentencia del Caso Habitantes de La Oroya Vs. Perú🇵🇪.
— Corte Interamericana de Derechos Humanos (@CorteIDH) March 22, 2024
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Esta decisão cria um precedente importante: estabelece a responsabilidade do Estado no controle das empresas e nas consequências das suas atividades sobre o ambiente.
Rosa Peña, membro da Associação Interamericana de Defesa Ambiental e advogada das vítimas de La Oroya, explica a Raphaël Moran, da RFI, as questões por trás desta importante decisão:
“Esta sentença reconhece a responsabilidade do Estado na violação do direito à vida, a um ambiente saudável, ao acesso à informação. E estabelece medidas de reparação, como a obrigação de fornecer um diagnóstico sobre o saneamento necessário, medidas especificamente dedicadas às vítimas e não apenas aos demandantes, mas a todos os moradores de La Oroya em geral, para que, por exemplo, todas as pessoas cuja saúde é afetada pela poluição tóxica possam ter acesso a cuidados gratuitos. A sentença também estipula que o Estado deve pedir publicamente perdão à população e compensar financeiramente as vítimas pelos danos sofridos. Esta é a primeira decisão emitida por um órgão interamericano que reconhece o direito a um meio ambiente saudável. Este é, portanto, um passo em frente para a justiça ambiental na América Latina, um precedente que poderia ser aplicado a outros casos na região."
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