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A IA salvará o futuro? Festival nos EUA lembra seus limites e aponta responsabilidade da humanidade

Os entusiastas da inteligência artificial (IA) apostam na tecnologia para ajudar a humanidade a resolver problemas como o aquecimento global. Mas a realidade é que isso exigirá principalmente esforços humanos. Especialistas apontam, durante um evento dedicado ao assunto nos Estados Unidos, o perigo de uma "corrida armamentista" pela IA (como ocorreu com a energia nuclear) e como evitar um "apocalipse robótico".

Desdemona, um robô humanoide fabricado pela Hanson Robotics, no festival SXSW em Austin, Texas, em 12 de março de 2024 © SUZANNE CORDEIRO / AFP
Desdemona, um robô humanoide fabricado pela Hanson Robotics, no festival SXSW em Austin, Texas, em 12 de março de 2024 © SUZANNE CORDEIRO / AFP © SUZANNE CORDEIRO / AFP
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Imagine se pudéssemos perguntar à IA: "'Chat GPT, tenho um problema espinhoso, o que você faria se estivesse no meu lugar', e ele dissesse: 'Você precisa reestruturar esse setor da economia e depois...' Não. É um sonho impossível", diz Michael Littman, professor de ciência da computação da Universidade de Brown, nos EUA. 

Para proteger o meio ambiente, por exemplo, ele acredita que a Inteligência Artificial (IA) melhorará principalmente a eficiência dos sistemas de produção e, portanto, reduzirá o consumo de energia.

"Mas não será suficiente apertar um botão. Os seres humanos terão muito trabalho a fazer", explicou ele no festival de artes e tecnologia SXSW em Austin, Texas, no sul dos Estados Unidos.

Decifrando "sentimentos" humanos

Simi Olabisi, uma executiva da Microsoft, destacou os serviços de nuvem da empresa norte-americana. "A ferramenta Azure Language para call centers permite que você capture os 'sentimentos' dos clientes - que podem, por exemplo, estar irritados no início e muito gratos no final - e informar isso à empresa", explicou ela na conferência "No coração da revolução da IA: como a IA está capacitando o mundo".

A noção de inteligência artificial, com seus algoritmos capazes de automatizar tarefas e analisar toneladas de dados, existe há várias décadas.

No entanto, ela ganhou uma nova dimensão no ano passado com o sucesso do ChatGPT, a interface de IA generativa lançada pela OpenAI, uma start-up financiada principalmente pela Microsoft.

Essa tecnologia, que produz textos, imagens e outros conteúdos em linguagem cotidiana e sob demanda, gera preocupações em termos de emprego ou fraude, mas também muito entusiasmo.

"Melhorar a humanidade"?

A OpenAI (e o Google, a Meta, a Amazon, etc) tem como objetivo criar uma IA "geral" (AGI), operando com base em programas "mais inteligentes que os humanos em geral", em particular para "ajudar a melhorar a humanidade", de acordo com seu CEO, Sam Altman.

Ben Goertzel, cientista que dirige a SingularityNET Foundation e a AGI Society, prevê sua chegada para 2029.

"Serão necessários apenas alguns anos para que uma máquina pense mil vezes melhor, ou um milhão de vezes melhor, do que um ser humano, porque ela será capaz de modificar seu próprio código-fonte", disse ele durante a conferência "Como tornar a IA geral benéfica e evitar o apocalipse robótico?".

Goertzel defende o desenvolvimento de uma IA geral dotada de "compaixão e empatia" e integrada a robôs humanoides "que se pareçam conosco", para garantir um bom entendimento entre a futura "super IA" e a humanidade.

"Sementes de sabedoria"

Ao lado dele, David Hanson, fundador da Hanson Robotics (projetista do Desdêmona, um humanoide dotado de IA generativa, também presente no evento), fez conjecturas sobre o potencial da IA geral.

Ele poderia "ajudar a resolver problemas ambientais, embora as pessoas provavelmente a usarão para criar algoritmos de negociação financeira", ironizou.

Hanson teme as consequências potencialmente devastadoras de uma corrida generalizada de IA entre as nações, mas ressalta que os seres humanos não esperaram que essa tecnologia aparecesse "para brincar de roleta existencial com armas nucleares" ou "causar extinção em massa".

Talvez a IA geral "contenha sementes de sabedoria que florescerão e nos ajudarão a ser melhores", disse ele.

Em um primeiro momento, a IA deve possibilitar a aceleração do desenvolvimento de novos medicamentos ou materiais mais sustentáveis.

"Se sonharmos um pouco, ela poderá entender a complexidade do mundo físico e usá-la para (...) descobrir materiais completamente novos que nos permitam fazer coisas que antes eram impossíveis", disse Roxanne Tully, do fundo de investimentos Piva Capital.

"A IA já está funcionando bem em sistemas de previsão e alerta para tornados e incêndios florestais, mas ainda é preciso retirar as populações afetadas ou fazer com que os seres humanos concordem com a vacinação no caso de uma pandemia", disse Rayid Ghani, da Universidade Carnegie Mellon.

"Nós criamos os problemas, não a IA. A tecnologia pode nos ajudar um pouco", disse ele. "E somente se os humanos decidirem usá-la para resolver esses problemas", concluiu.

(Com AFP)

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