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Caso Emmily: descoberta de objetos com sangue e sêmen complicam o empresário suspeito da morte de brasileira

Novos elementos foram descobertos como parte das investigações sobre a morte da brasileira Emmily Gomes, na Argentina. Além dos 25 objetos com presença de sangue e sêmen no apartamento do empresário Francisco Sáenz Valiente, o resultado de uma perícia deve ser divulgado nas próximas horas sobre o conteúdo de uma seringa que poderia ter sido injetado na brasileira. Os restos biológicos podem ter impacto na aguardada decisão da Justiça, a ponto de definir se o empresário volta ou não à prisão preventiva.

O advogado da acusação, Ignacio Trimarco, acredita que Emmily foi drogada para ser sexualmente abusada.
O advogado da acusação, Ignacio Trimarco, acredita que Emmily foi drogada para ser sexualmente abusada. © Márcio Resende/RFI
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A presença de sangue e de sêmen em 25 amostras como preservativos, roupa de cama e até a roupa de Emmily Rodrigues Santos Gomes, de 26 anos, podem reforçar a acusação contra Francisco Sáenz Valiente, de 52 anos, suspeito de feminicídio, abandono de pessoa e fornecimento de drogas na manhã de 30 de março, quando a brasileira caiu nua do apartamento do empresário no sexto andar de um luxuoso edifício em Buenos Aires.

Embora ainda não se saiba de quem pertencem o sangue e o sêmen encontrado, o resultado da perícia fortalece a versão da acusação sobre um crime de caráter sexual no qual pode ter havido um abuso. Enquanto Sáenz Valiente nega que tenha havido qualquer insinuação sexual, o advogado da família, Ignacio Trimarco, trabalha com a hipótese de um feminicídio para encobrir um estupro.

“Este resultado nos permite pedir uma perícia genética para comprovar se o sêmen é de Sáenz Valiente e se o sangue é de Emmily. Se o sangue for dela, isso comprova que Emmily foi ferida antes de cair do sexto andar”, indica à RFI o advogado Ignacio Trimarco.

“Quanto ao sêmen, desmentiria a defesa do empresário de que não houve sexo, a não ser que Sáenz Valiente colecione preservativos usados. Quando reconstruímos a cena, temos uma mulher nua, um homem de cueca, preservativos usados com sêmen. Entendo que tudo isso está em linha com o que temos sustentado: Emmily foi vítima de um ataque sexual e que o homicídio procurou ocultar esse ataque sexual”, conclui Trimarco.

Impacto iminente

A Câmara Nacional de Apelações Criminais está a ponto de emitir uma decisão sobre o recurso do Ministério Público e da família de Emmily contra a decisão da Justiça em primeira instância, que libertou Francisco Sáenz Valiente no dia 18 de abril por falta de provas, depois de passar 20 dias em prisão preventiva. A audiência do dia 22 de maio ainda aguarda uma decisão se o empresário deve voltar à prisão. “Segundo o meu modo de entender, essa perícia deveria ter impacto na decisão dos juízes”, acredita Trimarco.

Do outro lado do estrado, o advogado da defesa, Rafael Cúneo Libarona, acredita que o resultado não terá nenhum impacto na decisão dos juízes.

“Absolutamente nada”, sentenciou à RFI Cúneo Libarona, para quem “a Câmara não analisa novas provas, mas apelações”. Segundo ele, “esse sêmen pode ser de dias anteriores e pode ser de outras pessoas em dias anteriores. Inclusive, muitos desses restos estão fora da cena do crime ou fora da cena do iter criminis (fases sucessivas para a realização de um crime)”, minimizou o advogado de Sáenz Valiente.

“Um homem sozinho, separado, sem uma relação estável, que faz sexo em várias oportunidades. O que se encontrou não tem por que estar vinculado com o caso. Por outro lado, aqui se investiga ou um homicídio, ou um abandono de pessoa. Não se investiga um ataque sexual. Se a acusação acredita que houve um abuso sexual, deverá provar que houve tal abuso”, desafia Cúneo Libarona.

O médico legista responsável pela autópsia declarou que todas as feridas e politraumatismos eram compatíveis com a queda e que não havia lesões compatíveis com abuso sexual.

Sangue na roupa de Emmily

Segundo a perícia da Polícia Científica da Cidade de Buenos Aires, das 48 amostras colhidas no apartamento do empresário, 25 deram positivo para sangue e sêmen.

A presença de sangue humano aparece em seis amostras: três num lençol, uma numa fronha, uma num preservativo e a mais importante para a acusação: no top que Emmily usava antes de cair nua pela janela dos fundos no vão interno do edifício.

Já a presença de sêmen aparece em 19 amostras: oito em preservativos, três num edredom, uma em outro edredom, três num lençol, duas numa fronha, uma numa toalha e outra num cotonete.

Nas próximas horas, segundo informações obtidas pela RFI, sairia o resultado sobre o conteúdo de uma seringa encontrada no apartamento. Foram encontradas três seringas sem a agulha, mas, numa delas, havia um líquido esbranquiçado.

“O resultado dessa perícia será determinante. Pode ser que tenham injetado algo para que Emmily dormisse enquanto era abusada ou pode ser outro tipo de droga. Esperemos esse resultado”, aponta o advogado da família de Emmily, Ignacio Trimarco, em entrevista à RFI.

À espera de uma decisão

Na madrugada de 30 de março, havia cinco pessoas no apartamento. Além de Francisco Sáenz Valiente e de Emmily Gomes, Dafne Gutiérrez Santana, Lía Figueroa Alves e a brasileira Juliana Magalhães Mourão, amiga do empresário.

Durante horas, todos consumiram drogas. Dafne e Lía saíram antes. No momento da morte, apenas Francisco estava no quarto de onde Emmily caiu. Juliana estava em outro ambiente do apartamento. O empresário alega que as mordidas e os arranhões são consequência da sua luta por evitar que Emmily pulasse, a partir de um surto psicótico provocado pelo excessivo consumo de drogas.

O empresário foi acusado de “feminicídio” e de “facilitação de drogas” pelo Ministério Público e pela família de Emmily. Porém, no dia 22 de maio, na audiência que pediu a volta de Sáenz Valiente à prisão, os promotores desvalorizaram a acusação de feminicídio ao incorporarem outra hipótese, a de “abandono de pessoa seguido de morte” por entenderem que o empresário demorou para chamar ao número de emergências e não fez o esforço suficiente para evitar que Emmily caísse pela janela.

O advogado da família, Ignacio Trimarco, manteve a acusação de feminicídio, mas acrescentou a de “homicídio criminis causa” ao considerar que Sáenz Valiente matou a brasileira para ocultar um ataque sexual.

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