Papa Francisco pede fim do derramamento de sangue em visita ao Sudão do Sul
O papa Francisco pediu nesta sexta-feira (3) aos líderes do Sudão do Sul que tenham um "novo despertar" para a paz. A declaração foi feita no primeiro dia de sua visita ao país mais jovem do mundo, dilacerado pelas lutas pelo poder e a pobreza extrema.
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"O processo de paz e reconciliação requer um novo começo" e o "tortuoso caminho" da paz "não pode mais ser adiado", alertou o papa argentino durante um discurso perante as autoridades da capital Juba.
De 2013 a 2018, este país de 12 milhões de habitantes foi assolado por uma sangrenta guerra civil entre os partidários dos dois líderes inimigos, o presidente Salva Kiir e seu vice Riek Machar, que deixou 380.000 mortos e milhões de deslocados. Apesar de um acordo de paz assinado em 2018, a violência continua.
"As gerações futuras honrarão ou apagarão da memória seus nomes, dependendo do que vocês fizerem agora", alertou o papa de 86 anos, ciente de suas palavras "diretas".
"Basta de derramamento de sangue, basta de conflitos, basta de violência e acusações recíprocas contra os que as cometem. Basta de abandono de um povo sedento de paz. Basta de destruição, é hora de construir!", ordenou.
A "peregrinação pela paz" é a primeira visita papal ao Sudão do Sul desde que a nação de maioria cristã conquistou a independência do Sudão em 2011.
Por sua vez, o presidente Salva Kiir anunciou o levantamento da suspensão, decidida em novembro, da participação do governo nas negociações, em Roma, com os grupos rebeldes que não assinaram o acordo de paz. As reuniões são realizadas desde 2019.
Fieis caminharam nove dias para ver o papa
Pouco depois da chegada do papa, milhares de pessoas, agitando bandeiras ou ramos de plantas da região, enfileiraram-se nas estradas para recebê-lo ao ritmo de canções e tambores.
"Estou muito emocionada por vê-lo", disse à AFP Hanah Zachariah, de 20 anos, entre dezenas de peregrinos que caminharam nove dias desde a cidade de Rumbek até Juba, uma viagem de cerca de 400 quilômetros na tentativa de ver o papa.
Nesta viagem sem precedentes, o pontífice está acompanhado pelo chefe da Igreja Anglicana, o arcebispo de Canterbury, Justin Welby, e do moderador da Igreja da Escócia, Iain Greenshields, representantes das outras duas confissões cristãs deste país de 12 milhões de habitantes e 60 etnias, atingido pela miséria e a pela fome.
A Igreja desempenha um papel de substituição em áreas sem qualquer serviço governamental e onde os trabalhadores humanitários são frequentemente atacados ou até mortos.
A ONG Human Rights Watch pediu na sexta-feira aos líderes religiosos que pressionem a liderança do Sudão do Sul para "enfrentar a atual crise de direitos humanos no país e a impunidade generalizada".
Em 2019, um ano depois de um acordo de paz, Francisco recebeu Salva Kiir e Riek Machar no Vaticano e se ajoelhou para beijar seus pés, suplicando pela paz, um gesto simbólico forte.
Nesta quinta-feira (2), véspera da chegada do papa, ao menos 21 pessoas foram assassinadas em um roubo de gado no sul do país.
Segurança
Muitos esperam que a viagem do papa acabe com os confrontos. "Sofremos muito. Agora queremos alcançar a paz", disse Robert Michael, um empresário de 36 anos, embaixo de um dos muitos outdoors dando as boas-vindas ao papa espalhados na cidade.
Cerca de 5.000 policiais e soldados adicionais foram mobilizados, disseram autoridades de segurança e sexta-feira foi declarado dia feriado no país.
Esta viagem do Papa Francisco segue uma visita de quatro dias à República Democrática do Congo, país que enfrenta uma ofensiva armada de grupos rebeldes, no leste.
Em Kinshasa, Francisco celebrou uma gigantesca missa ao ar livre, encontrou vítimas da violência e condenou as "crueldades atrozes" neste país onde os abusos de grupos armados mataram centenas de milhares de pessoas.
Inicialmente marcada para o verão de 2022 e depois adiada, esta visita é a 40ª do papa argentino no exterior desde sua eleição em 2013, e a terceira na África subsaariana.
(Com informações da AFP)
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