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Angola homenageia ex-presidente com funeral de Estado, apesar de legado controverso

Angola presta a última homenagem, neste domingo (28), ao ex-presidente José Eduardo dos Santos. As autoridades organizaram um funeral de Estado, apesar de o ex-dirigente ter governado o país durante 38 anos de forma autoritária e deixar um legado controverso, marcado por acusações de corrupção e nepotismo. Segundo o historiador Bruno Kabunda, Santos representa para os angolanos o líder que conquistou a paz definitiva no país, depois da longa guerra pela Independência de Portugal (1961-1974).

Funeral do ex-presidente José Eduardo dos Santos, com honras militares, em Luanda.
Funeral do ex-presidente José Eduardo dos Santos, com honras militares, em Luanda. REUTERS - SIPHIWE SIBEKO
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A despedida acontece poucos dias após as eleições legislativas que definiram de maneira indireta o novo presidente do país. O pleito foi a votação mais acirrada da história de Angola e tem os resultados questionados pela oposição.

De acordo com os resultados preliminares, após a apuração de 97% das urnas, o Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), partido do atual presidente João Lourenço e sucessor designado por Santos, venceu mais uma vez, superando a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita). No sábado (27), no entanto, cinco membros da Comissão Eleitoral afirmaram que "não assinariam a princípio" os resultados definitivos, que ainda não foram divulgados.

José Eduardo dos Santos governou Angola entre 1979 e 2017, mas nunca foi eleito pelo voto popular. Ele morreu em 8 de julho, aos 79 anos, em uma clínica de Barcelona, onde estava hospitalizado para tratamento de uma crise cardíaca.

O retorno do corpo foi objeto de disputa, pois vários filhos de Santos eram contrários à repatriação e o governo angolano queria organizar um funeral de Estado. Mas a justiça espanhola finalmente autorizou o traslado dos restos mortais.

Muitos chefes de Estado foram convidados para o ato oficial na Praça da República, liderado pelo atual presidente de Angola, João Lourenço. O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, a primeira-ministra do Gabão, Rose Christiane Ossouka, o presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, compareceram à homenagem.

Apesar do legado controverso, a memória de Santos é celebrada com disparo de salvas de canhão e honras militares, além de um minuto de silêncio. Após a cerimônia, o cortejo levará o caixão para o cemitério.

Entrevistado pela RFI, o historiador Bruno Kabunda diz que Santos "deve ser visto como uma figura de união nacional independentemente de tudo o que aconteceu". Na avaliação do historiador, foi por meio da liderança de Santos que os angolanos conseguiram a paz definitiva, depois da longa guerra travada pela independência, que envolveu vários grupos separatistas e as Forças Armadas de Portugal. "Por isso, ele continua sendo uma referência para os angolanos, apesar de alguns impasses que enfrentou no último período em que esteve no poder", opina Kabunda. 

Acusações de corrupção

A filha mais velha do ex-presidente, Isabel, pressionada por uma série de investigações por corrupção, escreveu na semana passada nas redes sociais que não compareceria ao funeral. Conhecida como "a princesa", ela foi designada pelo pai para comandar a empresa nacional de petróleo Sonangol. Isabel foi destituída no âmbito da ampla campanha de corrupção iniciada por Lourenço, que foi o político designado por Santos para sua sucessão, mas que virou as costas ao clã após sua eleição.

José Eduardo dos Santos transformou Angola, país rico em recursos naturais, em um dos maiores produtores de petróleo do continente, ao lado da Nigéria. Mas também utilizou os recursos do país para o próprio lucro e de pessoas próximas, enquanto a nação permanecia como uma das mais pobres do mundo.

Ele deixou o poder quando tinha quase 75 anos, com a saúde muito debilitada. Santos nomeou como sucessor o atual presidente Lourenço, eleito em 2017 e que está muito perto de conquistar o segundo mandato. Antes de deixar o governo, Santos aprovou leis para garantir uma ampla imunidade judicial.

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